sábado, 25 de dezembro de 2010

Canção de Outono

Não é que a sua presença não o incomode, ele é que não quer dar parte de fraco. Se cedesse aos seus impulsos, vincados no desejo com que cada vislumbre dela o brinda, há muito que este jogo teria terminado. Mas o medo de derramar sangue impede-o de se atirar loucamente para as chamas dessa fogueira de guerra uma vez mais. Ela joga com as suas emoções, ora aproximando-se, ora fugindo de si. Castiga-o uma e outra vez, mesmo quando lhe quer bem. Mesmo quando deseja a sua companhia mais que tudo. Nunca perceberá a dimensão das suas acções, porque o sangue que lhe corre nas veias não é cinza, ao contrário do dele. Estóico, ele mantém-se à tona, ignorando as sucessivas investidas e sem perceber que, desde o início, esta era uma batalha perdida. Ele julga que sabe o que quer e como o alcançar, mas enfim será vítima de si mesmo e do seu pecado. É uma questão de tempo.



Scarlett Johansson

sábado, 21 de agosto de 2010

Colour my life with the chaos of trouble.

Saio à rua e é como se flutuasse. Levemente percorrendo o trilho da noite quente. Como que hipnotizado por uns quaisquer acordes lascivos que me seduzem e guiam a destino incerto. O meu mal sempre foi essa obsessão libidinosa, tantas vezes incoerente e capaz dos mais cruéis golpes. Tomara ter nos meus braços o corpo quente de um anjo caído, em busca de asas novas. Poder sentir a harmonia arrebatadora desse fogo tão breve que é o momento em que duas almas se vêem por instantes, despidas do invólucro mundano que seca e desfaz o charme da entrega. Gritaríamos em coro que este mundo é nosso e rematávamos as dúvidas com um beijo. Tocaríamos a lua e as estrelas. Mas pesam-me as ideias e deixo de flutuar. Devo procurar o caminho de regresso. Abafado pelo silêncio ensurdecedor dessa saudade. De um abraço e do toque de outro corpo no meu, envoltos em caos. Porque esse caos é o que me alimenta os dias e as noites.




Colour my life with the chaos of trouble.

terça-feira, 30 de março de 2010

Fumo negro

Em dias cinzentos a música parece sempre errada. Como se vez após vez após vez colocássemos o disco errado. O efeito verdadeiramente incrível está no facto de que depois não conseguimos deixar de ouvir a música até ao fim. Que nos leva a ficar sob este feitiço? Esta estranha forma de masoquismo que é subjugar a nossa vontade ao rumo que ela parece tomar por si só. A questão aqui é que secretamente o nosso intímo está a dizer-nos algo. Os dias cinzentos não vão deixar de o ser só porque queremos. Temos de lhe dar o que ele deseja. E perceber que as suas faltas são as nossas faltas.

Hoje o meu dia foi cinzento. Ao som da mesma música repetida sem fim na minha cabeça. E não era a música certa.

E saber que um olhar assim seria remédio para tantos males da alma...


Diane Kruger, retirada do E Deus criou a Mulher.

domingo, 21 de março de 2010

dia da poesia

Uma vez que este Domingo foi dia da poesia. O meu poema favorito de Fernando Pessoa, tributo ao meu amado Tejo, eterno confidente.



"Tu, de quem o sol é sombra,
De quem cadáver o mundo,
Meus passos guia, aqui na sombra
O sentir-te, ermo e profundo

Presença anónima e ausente
De quem a alma é o véu
A meus passos de um consciente
Tão consciente que é teu

Para que, passadas eras
De tempo ou alma ou razão
Meus sonhos sejam esferas
Meu pensamento, visão

Bem sei que todas as mágoas
São como as mágoas que são
Parecidas com as águas
Que continuamente vão

Quero pois ter guardada
Uma tristeza de mim
Que não possa ser levada
Por essas águas sem fim

Quero uma tristeza minha
Uma mágoa que me seja
Uma espécie de rainha
Cujo trono se não veja

A madrugada irreal do quinto império doira as margens do Tejo..."

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Rifa

Lá no trabalho, acompanhando o meu café matinal... premonição ou delírio?


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

turn the page*

Encerrado que está este capítulo, é tempo de começar um novo. O presente blog não pretende ser nada mais que um espaço pessoal, de divagação e partilha de um gosto muito simples. O de escrever. Não há cá presunções de masturbação intelectual (como diria um grande amigo) ou de narcisismo compulsivo. Ninguém é obrigado a ver, ler, comentar. Permitam-me a indulgência.

O endereço do blog é retirado de uma música dos The Haunted, cujo título é My Shadow, do álbum rEVOLVEr de 2004. O mesmo se aplica ao título, que pode alterar-se conforme o estado de espírito e a disposição. A imagem do cabeçalho é uma foto da belíssima e muito sensual Asia Argento.

Viremos então a página...



*Turn The Page é uma música de Bob Seger de 1973, reinterpretada pelos Metallica em 1998 como parte integrante do álbum Garage Inc.